Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi
caro e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: Já se
foi.
Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo. Sua capacidade mental não se perdeu.
Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso
lado.
Conserva o mesmo afeto que nutria por nós. Nada se perde, a não ser o
corpo físico de que não mais necessita no outro lado.
E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: Já se foi no mais Além,
outro alguém dirá feliz: Já está chegando.
Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem
terrena.
A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a
natureza não dá saltos.
Cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até
que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.
Um dia partimos do mundo espiritual na direção do mundo físico; noutro,
partimos daqui para o espiritual, num constante ir e vir, como viajores da
Imortalidade que somos todos nós.
Victor Hugo poeta e romancista francês, que viveu no século XIX, falou da vida e da morte dizendo: A cada vez que morremos ganhamos mais vida. As almas passam de uma esfera para a outra sem perda da personalidade, tornando-se cada vez mais brilhante.
Eu
sou uma alma. Sei bem que vou entregar à sepultura aquilo que não sou.
Quando
eu descer à sepultura, poderei dizer como tantos: meu dia de trabalho acabou.
Mas não posso dizer: minha vida acabou.
Meu
dia de trabalho se iniciará de novo na manhã seguinte.
O túmulo não é um beco sem saída, é uma passagem. Fecha-se ao crepúsculo e a aurora vem abri-lo novamente.