O
Espiritismo não criou igrejas, não precisa de templos suntuosos e tribunas
luxuosas com pregadores enfatuados. Não têm rituais, não dispensa bênçãos, não
promete Lugar celeste a ninguém, não confere honrarias em títulos ou diplomas
especiais, não disputa regalias oficiais.
Sua única
missão é esclarecer, orientar, indicar o caminho da autenticidade humana e da
verdade espiritual do homem.
Se não
compreendermos isso e nisso não nos integrarmos estaremos sendo pedras de
tropeço para os que desejam realmente evoluir, não por fora, mas por dentro. E
esse por dentro não quer dizer reforma, mas desenvolvimento das potencialidades
do espírito.
A teoria da
reforma intima é um engodo que levou muitos companheiros aproveitáveis à
vaidade adulteradora. Não há reforma para o que não se estraga.
A expressão
reforma intima é inadequada, pois implica a ideia de substituição de coisas,
conserto, modificação em disposições internas, como numa casa ou numa loja. As
disposições internas do espírito correspondem ao seu grau de evolução, como nos
mostra a Escala Espírita de Kardec.
O espírito é
vida e não arranjo. Seu desenvolvimento depende de experiências, estudos,
reflexão — tudo isso com mente aberta para a realidade e não fechada em
esquemas artificiais.
Ninguém se
reforma nem pode reformar os outros. Mas todos podem superar as suas condições
atuais, romper os limites em que a mente se fechou e transcender-se.
Os modelos
de figurino espiritual são inócuos e até mesmo prejudiciais. A responsabilidade
espírita é individual, cada qual responde por si mesmo e não pode prender-se a
supostos mestres espirituais.
Não busca a
ilusão de uma salvação confessional, mas aprofunda-se no conhecimento
doutrinário para saber por si mesmo onde pisa e para onde vai...
Os que
precisam de mestres não confiam em si mesmos, fazem-se ovelhas de um rebanho.
No Espiritismo não há rebanhos nem pastores: há trabalho a fazer, afinidades a
estabelecer entre companheiros em pé de igualdade, toda uma batalha a vencer,
há os pesados resíduos teológicos, supersticiosos e obscurantistas que esmagam
a ingenuidade das massas.
Os espíritas
que ainda se alimentam de leite — como escreveu Paulo — precisam tratar de
crescer e alimentar-se de coisas sólidas, consistentes.
Escrito por
Herculano Pires no livro
"Curso dinâmico de espiritismo"
José Herculano Pires (Avaré, SP, 25 de setembro de 1914, —
São Paulo, SP, 9 de março de 1979) foi um jornalista, filósofo, educador e
escritor espírita brasileiro.
Destacou-se como um dos mais ativos divulgadores do
espiritismo no país. Traduziu os escritos de Allan Kardec e escreveu tanto
estudos filosóficos quanto obras literárias inspirados na doutrina espírita.
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